FUNDAMENTOS DO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM
O ser humano realiza aprendizagem durante toda
a sua vida de diversas maneiras. Primeiramente o que aprende está ligado à
sobrevivência da espécie e individual, tanto no campo biológico como no
cultural. As primeiras realizações estão ligadas ao biológico, envolvendo o
movimento e a percepção. Outras estão ligadas ao desenvolvimento dos sistemas
simbólicos sendo a aquisição da linguagem de mais relevância na fase inicial da
vida. Esse desenvolvimento prossegue pela constante transformação resultante de
sua interação com o meio.
Sendo dotado de um sistema nervoso de grande
plasticidade, tem potencialidades que se desenvolverão em função do meio em que
nasce, das práticas e estímulos culturais, das instituições de que participa e
das possibilidades de acesso às informações existentes em seu contexto social.
A experiência anterior à experiência escolar é
relevante para o desenvolvimento do educando, mas a escola é uma das
possibilidades de desenvolvimento para o ser humano pois o processo de
escolarização transforma, aperfeiçoa, sistematiza as experiências vividas na
família e na comunidade. Nela, o
conhecimento que o aluno elabora, as informações que recebe e a forma como
trabalha com elas são elementos de um todo que se caracteriza pelas formas de
ação, reação e inserção de cada educando no complexo tecido social da escola e
fora dela.
A escolarização foi considerada por Vygotsky
como uma possibilidade única de desenvolvimento do ser humano, uma vez que as
aprendizagens que nela acontecem teriam pouca ou nenhuma possibilidade de
ocorrer na vida cotidiana.
O processo de aprendizagem humana envolve
componentes como a memória, a consciência e a emoção. A estes, somam-se outros que são os próprios
mediadores da ação humana, o desenvolvimento e a utilização dos sistemas
simbólicos, principalmente a linguagem e o papel da cultura no processo de
desenvolvimento humano. A escola
favorece essa mediação, que acontece entre o adulto e a criança e entre uma
criança e outra.
Wallon elaborou a tese de que a inteligência
humana se desenvolve a partir do sistema emocional, tese hoje corroborada pelas
descobertas recentes das neurociências.
Os processos de desenvolvimento são função
direta do período de formação, envolvendo os aspectos biológicos, psicológicos
e culturais (Vygotsky).
Cabe ao educador, detentor de uma função
cultural de socializador de conhecimento, introduzir as mediações necessárias
para a construção de conhecimento e desenvolvimento dos educandos e dele
próprio, ser humano em desenvolvimento.
O educador francês Célestin Freinet, por
exemplo, por acreditar que o interesse da criança estava dentro e fora da
escola, idealizou a atividade aula-passeio com o objetivo de trazer motivação e
ação para o binômio tradicionalmente compartimentado: vida e escola. Freinet
percebeu que o ensino é muito mais eficiente quando se baseia no desejo e no
prazer do aluno.
Para Freinet, aproximando os alunos dos
conhecimentos e do cotidiano de sua própria comunidade os estudantes podem se
valer destes conhecimentos para modificar a sociedade em que vivem. Aprende-se,
por exemplo, mais História e Geografia em uma aula-passeio porque é mais fácil
compreender o conteúdo quando ele faz parte de um contexto. No caso do aluno
deficiente visual é possível aprender também disciplina como a Biologia através
do tato e do olfato identificando frutas, verduras e legumes – neste caso
também é possível utilizar o paladar. Ou animais, desde que se possa tocá-los e
cheirá-los.
O educador Paulo Freire costumava dizer que
antes de ensinar uma pessoa a ler as palavras é preciso ensiná-la a ler o
mundo. Segundo ele, ninguém ensina nada para ninguém e as pessoas não aprendem
sozinhas. É preciso pôr fim à educação “bancária”, em que o professor deposita
em seus alunos o conhecimento que possui.
As pesquisas de Jean Piaget e o seu interesse pelas
estruturas mentais, com a consequente contribuição de uma teoria que procura
elucidar os caminhos do pensamento desde a sua gênese, coloca à disposição dos
educadores um conhecimento acerca do desenvolvimento mental da criança que tem
sido utilizado sob diversos ângulos. Dois
aspectos, no entanto, parecem atrair a prática educacional: os aspectos
estruturais que denotam uma preocupação com os estágios de desenvolvimento e
sua caracterização em termos de estruturas operatórias e os aspectos funcionais
ligados à concepção construtivista e interacionista do conhecimento com os
processos responsáveis pelo desenvolvimento.
Na área da psicologia educacional, na perspectiva
estruturalista, encontramos um pólo psicologizante que propõe como meta adequar
os objetivos, os conteúdos e os métodos de ensino às características evolutivas
dos alunos, às suas possibilidades e limitações intelectuais, às suas
necessidades e interesses; e uma corrente construtivista, que vê a educação
como um fenômeno complexo, com múltiplos componentes, cuja compreensão e
tratamento não podem se realizar unicamente com base na psicologia, o que torna
a teoria genética instrumento de análise dos componentes psicológicos e do
fenômeno educacional.
Piaget não concebe um esfacelamento da sua
teoria quando da sua aplicação à prática educacional, apesar de não ter
pesquisado a questão educacional. A sua
preocupação central como sabemos, é a questão da gênese do pensamento.
A enorme quantidade de conhecimentos que é
oferecida ao aluno não tem como preocupação (na escola) lhe proporcionar a
possibilidade de exercitar o seu raciocínio.
Segundo Piaget, conquistar por si mesmo o saber,
com a realização de pesquisas livres e por meio de um esforço espontâneo, dará
ao aluno condições de retê-lo muito mais e também a possibilidade de aquisição
de um método que lhe servirá por toda a vida. Além disso, a construção do
conhecimento manterá acesa a sua curiosidade, aprenderá por si mesmo a fazer
funcionar a razão e construirá livremente suas próprias noções.
Tal prática escolar necessita estar alicerçada
a um conhecimento prévio acerca do desenvolvimento das operações racionais e da
aquisição ou construção das estruturas mentais.
O contato com a teoria piagetiana nos fornece
dados que sinalizam a importância da ação e experimentação do indivíduo sobre
os objetos e o seu meio.
As operações lógicas se constituem e se
estruturam em função deste intercâmbio: indivíduo versus o meio, indivíduo versus
individuo.
Como exemplo, Piaget cita a matemática, que
erroneamente é ensinada aos alunos, sem se levar em consideração a maneira como
as noções se constroem efetivamente no pensamento da criança, gerando um
bloqueio do raciocínio e levando o aluno ao fracasso.
No entanto, todo aluno normal é capaz de um bom
raciocínio matemático desde que se apele para a sua atividade e interesses
concretos. A lógica tão necessária à matemática deve ser construída pela
criança passo a passo em decorrência de suas atividades, chegando-se assim aos
objetivos do ensino da matemática, ou seja, o desenvolvimento das capacidades
dedutivas.
A escola tradicional necessita rever e
propiciar um ajustamento dos métodos didáticos aos dados psicológicos do
desenvolvimento real, incluindo em tal revisão uma intensificação das
atividades autônomas no aluno, pois para Piaget a verdadeira causa dos
fracassos da educação formal decorre essencialmente do fato de a mesma se
principiar pela linguagem (acompanhada de desenhos, de ações fictícias ou
narradas) em vez de fazê-lo pela ação real e material. Em se tratando do ensino
da matemática, diz ele: “É a partir da escola maternal que deve ser preparado o
ensino da matemática por uma série de manipulações voltadas para os conjuntos
lógicos e numéricos, os comprimentos e as superfícies etc.”, e esse gênero de
atividades concretas deveria ser desenvolvido e enriquecido ininterruptamente,
de forma muito sistemática, no decorrer de todo o Ensino Fundamental, a fim de
se transformar pouco a pouco, no início do Ensino Médio, em experiências
elementares de física e mecânica. Nessa hipótese, o ensino propriamente de
matemática estaria situado em seu meio natural de adequação aos objetos e
possibilitariam desenvolvimento da inteligência superior àquele alcançado
enquanto permanecer verbal ao gráfico. Propõe desta forma, uma reavaliação da
postura do professor perante o aluno, mas entendendo as dificuldades para tal
atitude à medida que se torna difícil para este profissional se posicionar diante
do novo aluno que lhe apresentam: o educador deve trabalhar com um sujeito real
e espontâneo, orientando-o, estimulando-o e permitindo que o mesmo experimente
e cometa erros, os quais devem ser encarados como uma busca da sua autonomia
intelectual.
A atividade da inteligência requer estímulos
recíprocos que levem ao exercício do espírito critico. A escola deve permitir e assegurar a
possibilidade de colaboração e experiências comuns entre os alunos. E mais,
deve aproveitar a complementaridade oferecida pelas diversas habilidades que
cada indivíduo possui para oferecer a possibilidade de trabalho em equipe e o
desenvolvimento da afetividade, do respeito pelas diferenças e da
solidariedade.
Olá Selma!
ResponderExcluirFinalmente, consegui chegar até o seu blog.
Irei me deliciar de suas palavras, aos poucos e aprender um pouquinho mais.
Fernanda Dutra
(a do salão, lembra?)