A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também
pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa, voluntariamente ou
involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com
deficiências. Com o objetivo de subsidiar o trabalho de jornalistas e
profissionais de educação que necessitam falar ou escrever sobre assuntos de
pessoas com deficiência no seu dia-a-dia, a seguir são apresentadas 59 palavras
ou expressões incorretas acompanhadas de comentários e dos equivalentes termos
corretos. Ouvimos e/ou lemos frequentemente esses termos incorretos em livros,
revistas, jornais, programas de televisão e de rádio, apostilas, reuniões,
palestras e aulas.
A numeração aplicada a cada expressão incorreta serve para direcionar o leitor de um termo para outro quando um mesmo comentário se aplicar a diferentes expressões (ou pertinentes entre si), evitando-se desta forma a repetição da informação.
A numeração aplicada a cada expressão incorreta serve para direcionar o leitor de um termo para outro quando um mesmo comentário se aplicar a diferentes expressões (ou pertinentes entre si), evitando-se desta forma a repetição da informação.
1.Adolescente normal
Desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto)
que não possua uma deficiência, muitas pessoas usam as expressões adolescente
normal, criança normal e adulto normal. Isto acontecia muito no passado, quando
a desinformação e o preconceito a respeito de pessoas com deficiência eram de
tamanha magnitude que a sociedade acreditava na normalidade das pessoas sem
deficiência. Esta crença fundamentava-se na ideia de que era anormal a pessoa
que tivesse uma deficiência. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito
questionável e ultrapassado. TERMO CORRETO: adolescente (criança, adulto) sem
deficiência ou, ainda, adolescente (criança, adulto) não-deficiente.
2. Aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido
Estes termos eram utilizados com frequência até a década de 80.
A partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes,
começa-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão pessoa deficiente. O
acréscimo da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente para a função de
adjetivo, foi uma grande novidade na época. No início, houve reações de
surpresa e espanto diante da palavra pessoa: “Puxa, os deficientes são
pessoas!?” Aos poucos, entrou em uso a expressão pessoa portadora de
deficiência, frequentemente reduzida para portadores de deficiência. Por volta
da metade da década de 90, entrou em uso a expressão pessoas com deficiência,
que permanece até os dias de hoje. Ver comentários ao item 47.
3. “Apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘A pessoa com
deficiência não pode ser um ótimo aluno’. FRASE CORRETA: “ele tem deficiência e
é um ótimo aluno”
4. “Aquela criança não é inteligente”
Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das
Inteligências Múltiplas. Até o presente, foi comprovada a existência de oito
tipos de inteligência (lógico-matemática, verbal-linguística, interpessoal,
intrapessoal, musical, naturalista, corporal-cinestésica e visual-espacial).
FRASE CORRETA: “aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por ex.]
lógico-matemática”
5. Cadeira de rodas elétrica
Trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um motor. TERMO
CORRETO: cadeira de rodas motorizada
6. Ceguinho
O diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma
pessoa completa. A rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa
visão ou visão subnormal) e cegueira (quando a deficiência visual é total).
TERMOS CORRETOS: cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual; deficiente
visual
7. Classe normal
TERMOS CORRETOS: classe comum; classe regular. No futuro, quando
todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra classe sem
adjetivá-la.
8. Criança excepcional
TERMO CORRETO: criança com deficiência mental. Excepcionais foi
o termo utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas deficientes
mentais. Com o surgimento de estudos e práticas educacionais na área de altas
habilidades ou talentos extraordinários nas décadas de 80 e 90, o termo
excepcionais passou a referir-se a pessoas com inteligência lógico-matemática
abaixo da média (pessoas com deficiência mental) e a pessoas com inteligências
múltiplas acima da média (pessoas superdotadas ou com altas habilidades e
gênios).
9. Defeituoso físico
Defeituoso, aleijado e inválido são palavras muito antigas e
eram utilizadas com frequência até o final da década de 70. O termo deficiente,
quando usado como substantivo (por ex., o deficiente físico), está caindo em
desuso. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência física
10. Deficiências físicas (como nome genérico englobando todos os
tipos de deficiência)
TERMO CORRETO: deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo, mas referindo-se a todos os tipos). Alguns profissionais não-pertencentes ao campo da reabilitação acreditam que as deficiências físicas são divididas em motoras, visuais, auditivas e mentais. Para eles, deficientes físicos são todas as pessoas que têm deficiência de qualquer tipo.
TERMO CORRETO: deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo, mas referindo-se a todos os tipos). Alguns profissionais não-pertencentes ao campo da reabilitação acreditam que as deficiências físicas são divididas em motoras, visuais, auditivas e mentais. Para eles, deficientes físicos são todas as pessoas que têm deficiência de qualquer tipo.
11. Deficientes físicos (referindo-se a pessoas com qualquer
tipo de deficiência)
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência (sem especificar o tipo de deficiência). Ver comentário do item 10.
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência (sem especificar o tipo de deficiência). Ver comentário do item 10.
12. Deficiência mental leve, moderada, severa, profunda
TERMO CORRETO: deficiência mental (sem especificar nível de
comprometimento). A nova classificação da deficiência mental, baseada no
conceito publicado em 1992 pela Associação Americana de Deficiência Mental,
considera a deficiência mental não mais como um traço absoluto da pessoa que a
tem e sim como um atributo que interage com o seu meio ambiente físico e
humano, que por sua vez deve adaptar-se às necessidades especiais dessa pessoa,
provendo-lhe o apoio intermitente, limitado, extensivo ou permanente de que ela
necessita para funcionar em 10 áreas de habilidades adaptativas: comunicação,
autocuidado, habilidades sociais, vida familiar, uso comunitário, autonomia,
saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho.
13. Deficiente mental (referindo-se à pessoa com transtorno
mental)
TERMOS CORRETOS: pessoa com doença mental, pessoa com transtorno
mental, paciente psiquiátrico
14. Doente mental (referindo-se à pessoa com déficit intelectual)
TERMOS CORRETOS: pessoa com deficiência mental, pessoa deficiente mental. O termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex.: o deficiente físico, o deficiente mental), tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas.
TERMOS CORRETOS: pessoa com deficiência mental, pessoa deficiente mental. O termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex.: o deficiente físico, o deficiente mental), tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas.
15. “Ela é cega, mas mora sozinha”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Todo cego não é
capaz de morar sozinho’. FRASE CORRETA: “ela é cega e mora sozinha”
16. “Ela é retardada mental, mas é uma atleta excepcional”
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Toda pessoa com
deficiência mental não tem capacidade para ser atleta’. FRASE CORRETA: “ela tem
deficiência mental e se destaca como atleta”
17. “ela é surda [ou cega], mas não é retardada mental”
A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo mental’. Retardada mental, retardamento mental e retardo mental são termos do passado. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência mental”
A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo mental’. Retardada mental, retardamento mental e retardo mental são termos do passado. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência mental”
18. “ela foi vítima de paralisia infantil”
A poliomielite já ocorreu nesta pessoa (por ex., ‘ela teve
pólio’). Enquanto a pessoa estiver viva, ela tem sequela de poliomielite. A
palavra vítima provoca sentimento de piedade. FRASE CORRETA: “ela teve [flexão
no passado] paralisia infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente] sequela de
paralisia infantil”
19. “ela teve paralisia cerebral” (referindo-se a uma pessoa no
presente)
A paralisia cerebral permanece com a pessoa por toda a vida.
FRASE CORRETA: ela tem paralisia cerebral
20. “ele atravessou a fronteira da normalidade quando sofreu um
acidente de carro e ficou deficiente”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável.
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca
sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ele teve um acidente de carro que o
deixou com uma deficiência”
21. Ela foi vítima da pólio
A palavra vítima provoca sentimento de piedade. TERMOS CORRETOS:
poliomielite; paralisia infantil e pólio. FC: ela teve pólio
22. Ele é surdo-cego
GRAFIA CORRETA: “ele é surdocego”. Também podemos dizer ou
escrever: “ele tem surdocegueira”
23. “Ele manca com bengala nas axilas”
FRASE CORRETA: “ele anda com muletas axilares”. No contexto
coloquial, é correto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que
anda apoiada em muletas.
24. “Ela sofre de paraplegia” [ou de paralisia cerebral ou de sequela
de poliomielite]
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou sequela de poliomielite]
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos de piedade. FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou sequela de poliomielite]
25. Escola normal
No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas,
bastará o uso da palavra escola sem adjetivá-la. TERMOS CORRETOS: escola comum;
escola regular (é preciso cuidado com o termo “regular” se referindo à escola,
pois pode sugerir que ela está regularizada para funcionamento)
26. “Esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente”
Nesta frase há um estigma embutido: ‘Filho deficiente é um peso
morto para a família’. FRASE CORRETA: “esta família tem um filho com
deficiência”
27. “Infelizmente, meu primeiro filho é deficiente; mas o
segundo é normal”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável,
ultrapassado. E a palavra infelizmente reflete o que a mãe pensa da deficiência
do primeiro filho: ‘uma coisa ruim’. FRASE CORRETA: “tenho dois filhos: o
primeiro tem deficiência e o segundo não tem”
28. Intérprete do Libras
TERMO CORRETO: intérprete da Libras (ou de Libras). Libras é
sigla de Língua Brasileira de Sinais. “Libras é um termo consagrado pela
comunidade surda brasileira, e com o qual ela se identifica. Ele é consagrado
pela tradição e é extremamente querido por ela. A manutenção deste termo indica
nosso profundo respeito para com as tradições deste povo a quem desejamos
ajudar e promover, tanto por razões humanitárias quanto de consciência social e
cidadania. Entretanto, no índice linguístico internacional os idiomas naturais
de todos os povos do planeta recebem uma sigla de três letras como, por
exemplo, ASL (American Sign Language). Então será necessário chegar a uma outra
sigla. Tal preocupação ainda não parece ter chegado na esfera do Brasil”,
segundo CAPOVILLA (comunicação pessoal).
29. Inválido (referindo-se a uma pessoa)
A palavra inválido significa sem valor. Assim eram consideradas
as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra
Mundial. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência
30. Lepra; leproso; doente de lepra
TERMOS CORRETOS: hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de
hanseníase. Prefira o termo a pessoa com hanseníase ao o hanseniano. A lei
federal nº 9.010, de 29-3-95, proíbe a utilização do termo lepra e seus
derivados, na linguagem empregada nos documentos oficiais. Alguns dos termos
derivados e suas respectivas versões oficiais são: leprologia (hansenologia),
leprologista (hansenologista), leprosário ou leprocômio (hospital de
dermatologia), lepra lepromatosa (hanseníase wirchowiana), lepra tuberculóide
(hanseníase tuberculóide), lepra dimorfa (hanseníase dimorfa), lepromina
(antígeno de Mitsuda), lepra indeterminada (hanseníase indeterminada). A
palavra hanseníase deve ser pronunciada com o h mudo [como em haras, haste, harpa].
Mas, pronuncia-se o nome Hansen (do médico e botânico norueguês Armauer Gerhard
Hansen) com o h aspirado.
31. LIBRAS – Linguagem Brasileira de Sinais
GRAFIA CORRETA: Libras. TERMO CORRETO: Língua Brasileira de
Sinais. Trata-se de uma língua e não de uma linguagem. Segundo CAPOVILLA
[comunicação pessoal], “Língua de Sinais Brasileira é preferível a Língua
Brasileira de Sinais por uma série imensa de razões. Uma das mais importantes é
que Língua de Sinais é uma unidade, que se refere a uma modalidade linguística
quiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva. Assim, há Língua de
Sinais Brasileira. porque é a língua de sinais desenvolvida e empregada pela
comunidade surda brasileira. Não existe uma Língua Brasileira, de sinais ou
falada”.
32. Língua dos sinais
TERMO CORRETO: língua de sinais. Trata-se de uma língua viva e,
por isso, novos sinais sempre surgirão. A quantidade total de sinais não pode
ser definitiva.
33. Linguagem de sinais
TERMO CORRETO: língua de sinais. A comunicação sinalizada dos e
com os surdos constitui um língua e não uma linguagem. Já a comunicação por
gestos, envolvendo ou não pessoas surdas, constitui uma linguagem gestual. Uma
outra aplicação do conceito de linguagem se refere ao que as posturas e
atitudes humanas comunicam não-verbalmente, conhecido como a linguagem
corporal.
34. Louis Braile
GRAFIA CORRETA: Louis Braille. O criador do sistema de escrita e
impressão para cegos foi o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era
cego.
35. Mongoloide; mongol
TERMOS CORRETOS: pessoa com síndrome de Down, criança com Down,
uma criança Down. As palavras mongol e mongoloide refletem o preconceito racial
da comunidade científica do século 19. Em 1959, os franceses descobriram que a
síndrome de Down era um acidente genético. O termo Down vem de John Langdon
Down, nome do médico inglês que identificou a síndrome em 1866. “A síndrome de
Down é uma das anomalias cromossômicas mais frequentes encontradas e, apesar
disso, continua envolvida em ideias errôneas… Um dos momentos mais importantes
no processo de adaptação da família que tem uma criança com síndrome de Down é
aquele em que o diagnóstico é comunicado aos pais, pois esse momento pode ter
grande influência em sua reação posterior.” (MUSTACCHI, 2000, p. 880)
36. Mudinho
Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à
realidade dessa pessoa. O diminutivo mudinho denota que o surdo não é tido como
uma pessoa completa. TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; deficiente auditivo;
pessoa com deficiência auditiva
37. Necessidades educativas especiais
TERMO CORRETO: necessidades educacionais especiais. A palavra
educativo significa algo que educa. Ora, necessidades não educam; elas são
educacionais, ou seja, concernentes à educação (SASSAKI, 1999). O termo
necessidades educacionais especiais foi adotado pelo Conselho Nacional de
Educação (Resolução nº 2, de 11-9-01, com base no Parecer nº 17/2001,
homologado em 15-8-01).
38. O epilético
TERMOS CORRETOS: a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia.
Evite fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
39. O incapacitado
TERMO CORRETO: a pessoa com deficiência. A palavra incapacitado
é muito antiga e era utilizada com frequência até a década de 80.
40. O paralisado cerebral
TERMO CORRETO: a pessoa com paralisia cerebral. Prefira sempre
destacar a pessoa em vez de fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
41. “Paralisia cerebral é uma doença”
FRASE CORRETA: “Paralisia cerebral é uma condição”. Muitas
pessoas confundem doença com deficiência.
42. Pessoa normal
TERMOS CORRETOS: pessoa sem deficiência; pessoa não-deficiente.
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado.
43. Pessoa presa (confinada, condenada) a uma cadeira de rodas
TERMOS CORRETOS: pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas; pessoa que usa uma cadeira de rodas. Os termos presa, confinada e condenada provocam sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos cadeirante e chumbado.
TERMOS CORRETOS: pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira de rodas; pessoa que usa uma cadeira de rodas. Os termos presa, confinada e condenada provocam sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é correto o uso dos termos cadeirante e chumbado.
44. Pessoas ditas deficientes
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste
caso, funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é
preconceituoso.
45. Pessoas ditas normais
TERMOS CORRETOS: pessoas sem deficiência; pessoas
não-deficientes. Neste caso, o termo ditas é utilizado para contestar a
normalidade das pessoas, o que se torna redundante nos dias de hoje.
46. Pessoa surda-muda
GRAFIA CORRETA: pessoa surda ou, dependendo do caso, pessoa com
deficiência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde
à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva
parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é
total).
47. Portador de deficiência
TERMO CORRETO: pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se
bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador de
deficiência (e suas flexões no feminino e no plural). Pessoas com deficiência
vêm ponderando que elas não portam deficiência; que a deficiência que elas têm
não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (por exemplo,
um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido passou a ser
pessoa com deficiência. Ver comentários ao item 2.
48. PPD’s
GRAFIA CORRETA: PPDs. Não se usa apóstrofo para designar o
plural de siglas. A mesma regra vale para siglas como ONGs (e não ONG’s). No
Brasil, tornou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do
termo pessoas portadoras de deficiência. Hoje, o termo preferido passou a ser
pessoas com deficiência, motivando o desuso da sigla PPDs.
49. Quadriplegia; quadriparesia
TERMOS CORRETOS: tetraplegia; tetraparesia. No Brasil, o
elemento morfológico tetra tornou-se mais utilizado que o quadri. Ao se referir
à pessoa, prefira o termo pessoa com tetraplegia (ou tetraparesia) no lugar de
o tetraplégico ou o tetraparético.
50. Retardo mental, retardamento mental
TERMO CORRETO: deficiência mental. São pejorativos os termos
retardado mental, pessoa com retardo mental, portador de retardamento mental
etc. Ver comentários ao item 12.
51. Sala de aula normal
TERMO CORRETO: sala de aula comum. Quando todas as escolas forem
inclusivas, bastará o termo sala de aula sem adjetivá-lo.
52. Sistema inventado por Braile
GRAFIA CORRETA: sistema inventado por Braille. O nome Braille
(de Louis Braille, inventor do sistema de escrita e impressão para cegos) se
escreve com dois l (éles). Braille nasceu em 1809 e morreu aos 43 anos de
idade.
53. Sistema Braille
GRAFIA CORRRETA: sistema braile. Conforme MARTINS (1990),
grafa-se Braille somente quando se referir ao educador Louis Braille. Por ex.:
‘A casa onde Braille passou a infância (…)’. Nos demais casos, devemos grafar:
[a] braile (máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile,
sistema braile, biblioteca braile etc.) ou [b] em braile (escrita em braile,
cardápio em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal em
braile, texto em braile etc.).
54. “Sofreu um acidente e ficou incapacitado”
FRASE CORRETA: “Teve um acidente e ficou deficiente”. A palavra
sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos
de piedade.
55. Surdez-cegueira
GRAFIA CORRETA: surdocegueira. É um dos tipos de deficiência
múltipla.
56. Surdinho
TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência
auditiva. O diminutivo surdinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa
completa. Os próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos de surdos,
embora eles não descartem os termos pessoas cegas e pessoas surdas.
57. Surdo-mudo
GRAFIAS CORRETAS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência
auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade
dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva parcial (quando
há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é total). Evite
usar a expressão o deficiente auditivo.
58. Texto (ou escrita, livro, jornal, cardápio, placa metálica)
em Braille
TERMOS CORRETOS: texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal em braile; cardápio em braile; placa metálica em braile. Ver comentários ao item 53.
TERMOS CORRETOS: texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal em braile; cardápio em braile; placa metálica em braile. Ver comentários ao item 53.
59. Visão sub-normal
GRAFIA CORRETA: visão subnormal. TERMO CORRETO: baixa visão. É
preferível baixa visão a visão subnormal. A rigor, diferencia-se entre
deficiência visual parcial (baixa visão) e cegueira (quando a deficiência
visual é total).
* Trabalho publicado no livro
Mídia e Deficiência, de Veet Vivarta, coord. (Brasília: Andi/Fundação Banco do
Brasil, 2003, p. 160-165).