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terça-feira, 8 de março de 2016

A PRESENÇA DA MULHER NA EDUCAÇÃO

Não é por acaso que a mulher ocupa uma posição de predominância na educação, especialmente no ensino fundamental e médio. O papel da mulher na educação não pode ser desvinculado nem do processo histórico, nem do movimento de luta pelos direitos da mulher. A luta das feministas, como referencial histórico que evidencia a presença marcante da mulher no magistério, ocasionou mudanças significativas no padrão comportamental da sociedade brasileira.
Numa visão histórica, o movimento feminista brasileiro se apresentou como um reflexo do que acontecia nas sociedades mais industrializadas da Europa e dos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo, apresenta componentes só nossos, entendidos num contexto de nossa formação histórica e de nossa situação de dependência em relação aos centros hegemônicos a que estivemos atrelados desde o início da colonização.
A escravidão, a tardia emancipação do centro de dominação, o modelo fundiário imposto pelo colonizador português e a influência da Igreja Católica como força política e instrumento de controle social são elementos que permitem entender as peculiaridades do feminismo em nosso país.  Esses elementos são os fatores mais diretamente responsáveis pelo patriarcalismo, pelo paternalismo, pelo conservadorismo e pelo machismo brasileiro.
     O Marxismo estabeleceu como postulado que a transformação nas relações de produção (nível econômico) é a condição essencial para que ocorram mudanças significativas na superestrutura (nível ideológico) de qualquer sociedade.
     Nesse contexto, com a presença da mulher no mercado de trabalho, se insere a criação do Dia Internacional da Mulher, originado do seguinte fato: em 8 de março de 1857, as mulheres de uma indústria têxtil de Nova York ocuparam a fábrica, reivindicando redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas e os patrões, fechando os portões, atearam fogo ao prédio o que teve como consequência, a morte de 129 mulheres queimadas vivas.  Em 1975, a ONU incluiu o dia 8 de março em seu calendário oficial de comemorações como O Dia Internacional da Mulher.
     As lutas de cunho feminista brasileira surgiram na segunda década do século XX e se expressa, num primeiro momento, na reivindicação pelo direito ao voto, negado por uma interpretação tendenciosa da primeira Constituição Republicana de 1891 que em seu artigo 171 assegurava: “São eleitores todos os cidadãos maiores de 21 anos”, aplicando-se o termo “cidadãos”, apenas ao sexo masculino.  Em 1934 a mulher conquistou o direito ao sufrágio, porém até a década de 70, vivia ainda sob a custódia do pai, que era transferida ao marido, pelo casamento, e, no âmbito profissional, raros eram os casos de mulheres trabalhadoras, o que, quando acontecia pressupunha a autorização do marido e normalmente restrita às fábricas, à atividades ligadas à culinária, corte e costura, beleza, emprego doméstico (aos quais não eram atribuídos direitos trabalhistas).
      Quando era de um nível social um pouco mais elevado era a ocupação como enfermeira (geralmente impulsionado pelas necessidades masculinas com as guerras) e a professora, atividade aprovada pela visão masculina, pois entendia como ligada ao instinto maternal e a função atribuída à mulher de educar os filhos.
     A educação para a mulher dependia da conjugação de diversos fatores que podemos chamar de “sorte”: nascer numa família de recursos financeiros que possibilitasse os estudos, especialmente se estes se estendessem a universidades; não ter que competir com irmãos pela possibilidade de estudar; consentimento do pai para estudar (o que geralmente era visto como coisa desnecessária, meio de escrever cartas para o namorado, justificativa para se furtar às suas tarefas em casa, sendo suficiente saber ler uma receita culinária ou anotar medidas para confecção de roupas), e que posteriormente o marido não a impedisse de exercer uma profissão, onde a mais aceita, julgada “própria” para a mulher era a de professora.
      Raras eram as mulheres que atingiam o nível universitário, e isto até a década de 70, quando estava em vigor o Estatuto da Mulher Casada, onde a mulher, em seus direitos, era considerada parcialmente incapaz, comparada ao índio, ao menor, ao louco e ao pródigo, limitando seus direitos civis e subordinando à vontade do marido, numa incontestável discriminação. 
     A visão distorcida, que pressupunha uma condição de inferioridade da mulher acaba por ensejar a desvalorização da profissão de educador, que passa a ser encarada como atividade de quem não tem grandes talentos intelectuais. Obviamente, atualmente esta idéia já não é mais aceita e a mulher é vista como tão capaz jurídica e intelectualmente como o homem, rejeitando esse preconceito absurdo que apregoa a inferioridade intelectual da mulher.
     Diante dos fatos assinalados, não é surpresa o papel predominante da mulher na educação, profissão de pouco prestígio social e baixa remuneração, especialmente a “professora primária”. 
     No magistério de Ensino Fundamental existe um predomínio de mulheres da ordem de mais de 90%; no Ensino Médio, homens e mulheres aparecem quase que equilibradamente e no ensino de terceiro grau são os homens que constituem expressiva maioria, enquanto em ensinos profissionalizantes, quando se refere a “artes e ofícios” o que importa é qual o ofício a ser ensinado. Este fato pode ser explicado da forma como fizemos, revendo a história formadora da realidade que ora presenciamos.
     O cenário vem mudando lentamente, mas em uma sala onde estava sendo prestado exame de mestrado em educação para uma universidade pública no Rio de Janeiro, de 48 candidatos, somente dois eram homens. A mulher já ocupa posições antes só ocupadas pelos homens.  Hoje é comum que as mulheres sejam o principal, quando não o único provedor do sustento da família. E aí surge a necessidade de lutas a fim de obter o suficiente para arcar com as despesas, antes supridas exclusivamente pelo homem.
     Agora, o que leva à escolha da profissão de educador é a procura de realização pessoal e profissional e, algumas vezes, a impossibilidade de atuar em outros mercados de trabalho já saturados.
      Apesar de haver conseguido se emancipar da autoridade do marido, no mercado de trabalho ainda hoje a mulher é discriminada, embora em menor escala, no acesso a profissões e cargos e com salários mais baixos do que os que são oferecidos aos homens.
     Em menos de 100 anos, o "sexo frágil" ganhou força, conquistou espaços, saltou da condição de subserviência para ocupar posições de destaque no cenário político, econômico, cultural. Mulheres ministras, atrizes, compositoras, pilotos, bancárias, policiais. E ainda conciliam o sucesso profissional com a beleza de ser mãe, mulher.  Muitas vezes surge o estresse, o cansaço. Mas o orgulho de viver plenamente estes papéis, faz renovar as forças para seguir em frente.
     O esforço não é vão. A recompensa se traduz no reconhecimento do valor da mulher dentro da sociedade brasileira.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
TOSCANO Moema, GOLDENBERG Mirian; A revolução das Mulheres, Um Balanço do Feminismo no Brasil; Editora Revan


















Selma Inês Campbell - Graduada em Economia pela UFRJ, Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes, Habilitada ao Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, Tutora On line no Curso de Redação de Textos Acadêmicos pela CECIERJ, Curso de Qualificação de Professores na Área de Deficiência Visual pelo Instituto Benjamin Constant, Licenciada em Letras Português/Literaturas pela UFF. Escritora e palestrante.